RELATOS DE UMA TPM
Ha
muito tempo venho aprendendo cada vez mais sobre este negócio de TPM.
Achava que era lenda. Feliz ou infelizmente, em algum momento no meio
dos últimos anos venho me deparando com uma semana todos os meses em que
chocolate fica muito, muito, muito mais gostoso, e em que coisas
absolutamente ridículas irritam profundamente, e durante a qual preciso
controlar cada fio de cabelo pra não fazer um escândalo por coisa
nenhuma.
Pois é.
Esta merda é TPM. E pior, meus amigos, do que sentir-se irritada por
causa de absolutamente TUDO, é saber que essa irritação é muito
irracional, e se irritar muito com ela. Quando a sua própria irritação
te irrita, daí você desiste e se joga da sacada, porque não há saída.
Espero
profundamente passar pra você a irritação pelo nada que estou sentindo
nesse momento em que soco o teclado como se estivesse sentada diante de
uma máquina de escrever. Digo isso porque é fundamental que você, leitor
do sexo masculino, entenda a delicadeza desse período na vida de uma
mulher.
Quando eu
comia (muito) mais chocolate, o meu acabava e eu ia pedir pro meu irmão,
e ele brigava comigo. ‘Por que você não come um quadradinho por vez?
Daí vai durar mais que dois dias!’, ele dizia, irritado. Homens, não
suponham que vocês têm a ligeira ideia da magnitude do sabor de um
chocolate durante uma TPM, porque vocês não estão sequer próximos disso.
Não me peça para explicar – tem a ver com o sistema
de recompensa e a liberação de serotonina. Só sei que a sensação é
impressionantemente reconfortante. E se você soubesse disso,
providenciaria um estoque de barras de chocolate belga pra sua namorada.
Entenda,
por favor, que nossos sentidos se tornam mais sensíveis, e de um jeito
ruim. Eu acabo de me irritar profundamente com meu pobre pai, que usava
uma tesoura de canivete (este conjunto de chaves de casa) pra cortar um
punhado de fita adesiva. O barulho que as chaves não paravam de fazer,
como se durante meia hora sempre tivesse alguém chegando ou saindo de
casa, quase me fizeram voar no pescoço do homem – era como se alguém
tivesse balançando o molho assim, ao lado da minha orelha. Há meia hora,
me irritei com meu irmão entrando na cozinha enquanto eu jantava; com
meu namorado no computador; com um idiota na fila do banco
que entrou, ficou bloqueando o caminho e me fez perder todos os lugares
livres pra sentar (eram vários, juro). O barulho da TV está me
irritando. E no fim desse texto, quando eu tentava arquitetar melhor as
idéias, minha irmã entrou no quarto reclamando que eu comi laranja na
cozinha e deixei cair na pia, e que vai encher de formigas, blá, blá,
blá e eu quase virei Suzane Von Richthofen.
Credo, to brincando. Agora foi piada, sério.
Mas
eu garanto a você, amigo do sexo masculino que me acha uma maluca, que
dói mais em mim do que em você. E eu não estou falando sequer das
cólicas arrebatadoras ou do incômodo que é estar menstruada em si.
Eu
falo da plena e dolorida consciência de estar completamente doida
durante alguns dias e, pelo bem da humanidade e das suas relações
sociais, ter que suprimir isso. Você não conseguiria lidar. Homens
pensam que isso tudo é muito fácil – mas cara, te garanto que se você
passasse uma semana por mês completamente maluco, se irritando por nada e
por tudo, com a plena consciência de que você está maluco, e tendo que
reprimir isso pra não estragar sua vida, você não aguentaria viver mais
de 3 meses assim. Desistiria.
Portanto, acreditem quando a gente diz que está muito puta. E tragam o maldito chocolate.
Dos nacionais, o Milka é o melhor. E é baratinho.
Engraçado
que ficou parecendo post patrocinado no final, e fiquei com vontade de
esclarecer e dizer que não é – mas veja bem, EU DEVO EXPLICAÇÃO DE
ALGUMA COISA PRA ALGUÉM? DEVO? POR ACASO?
Não né? Ainda bem.
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